Luciano sentiu bicar na janela.
Foi ver quem era.
Era um passarinho.
Um colibri muito triste.
E, em voz alta, o Luciano questionou porque estaria tão triste aquele colibri, que não saía dali.
A Ana Luísa, que ouvira o comentário do irmão, e que também se entristeceu, referiu:
É porque não tem papinha para comer, tem fominha.
O Luciano abriu a janela ao colibri, para o quentinho do quarto.
Pegaram numas migalhinhas de pão e ele depenicou nas suas mãos.
Mas continuou triste.
Foram então os dois perguntar aos pais porque é que o colibri estaria tão triste.
E o pai disse que podia não ser coisa simples.
Podia não ser apenas fome, ou frio, ou mesmo apenas uma doença.
E esclareceu:
Temos alterado o meio ambiente.
Utilizamos e retiramos as plantas e animais dos seus locais originais.
Quando as plantas são retiradas do seu local, toda a vida animal que coexistia à sua volta fica desfasada e por sua vez vai tentar procurar outros locais.
Altera os seus hábitos e pode perder a vitalidade que lhe era inata. Muitas vezes perde mesmo a razão de ser, e condições para existir.
Muitos animais não sobrevivem às alterações, pois encontravam-se adaptados ao meio onde evoluíram durante milhares de anos.
Alterações bruscas como as que temos provocado actualmente no meio ambiente, têm efeitos catastróficos para animais e plantas que se haviam adaptado a esses meios e que se mantiveram estáveis durante milénios.
A procura de sobrevivência desses animais acaba por traze-los para zonas que nada têm que ver com eles, para as quais não estão adaptados e não conseguem sobreviver.
Não faço ideia como esse colibri conseguiu chegar aqui...
Deve andar perdido, com fome e afastado dos seus e do seu local de origem... só pode andar mesmo muito triste.
Faltam-lhe as plantas onde crescem as flores de campainha, das quais bebe o precioso néctar e se alimenta, parando no ar. É uma característica que mais nenhuma outra espécie de pássaros tem. Os colibris são de facto campeões no equilíbrio, a voar.
Como pode um campeão destes acabar assim tão triste?
É de facto o resultado da intervenção dos seres humanos na natureza, no habitat de todas as outras espécies.
Papá – referiram as crianças – temos que fazer alguma coisa. Não podemos deixar morrer o colibri!
Filhos, todos nós, com a nossa forma de viver, temos criado um problema bem maior que a sobrevivência deste colibri.
Está em causa a sobrevivência de muitas espécies, na forma de vida a que se adaptaram desde sempre.
Com todas estas alterações, os adultos ainda não perceberam que é a sobrevivência de todos que está em causa. Em pouco mais de cem anos, conseguiu-se destruir tanta coisa. Mas principalmente foram criadas condições ambientais para descontrolar o clima, a qualidade do ar e da água, de tal forma que se coloca em causa a manutenção da forma de viver tal como a conhecemos.
As emissões de dióxido de carbono, pela queima de combustíveis fósseis, provocaram um aumento global das temperaturas; isso está a provocar o degelo dos glaciares, que originam alterações nas correntes marítimas e nos ventos, nas chuvas. Ou seja: o clima nos continentes está a sofrer grandes alterações: Já não temos sol e chuva com a regularidade que antes tínhamos.
Com o degelo, o nível do mar também está a subir, levantando enormes problemas nas zonas costeiras, que são as mais habitadas.
A poluição das águas pelos detritos criados pelos homens tem também causas nefastas, aumentando-se a salinidade das águas, e provocando a morte da base da cadeia alimentar: o plâncton está a diminuir significativamente, pondo em causa inúmeras espécies. É uma alteração gravíssima nos mares, com consequências incalculáveis.
Papá: e porquê?
Ficou sem palavras o papá. Percebeu que o Luciano e a Ana Luísa tinham acabado de entender que os adultos fazem muitas coisas erradas.
Pois é, filhos. Os adultos não pensam no futuro de todos. São individualistas. São por vezes egoístas e comprometem o seu futuro e o dos descendentes. Dão cabo da natureza, que é o bem mais precioso que temos. Era bem melhor que os adultos tivessem continuado a ser sempre crianças.
E o Luciano e a Ana Luísa decidiram que iam tentar saber o que tinha acontecido, para que o colibri ali viesse parar tão triste. E que queriam ser sempre crianças, pois não iriam fazer o que fazem os adultos, ao comprometer o destino dos seres vivos, das plantas e dos animais.
Resolveram então que:
Iriam ser elas, as crianças, a mudar a mentalidade dos adultos, que são egoístas e teimosos. Não podia ser de outra forma, conforme transparecia a tristeza daquele colibri.
Iriam fazer reparo aos adultos em todas as coisas erradas que fazem, para que as crianças de hoje ainda tivessem a natureza para ver, para usufruir e não um futuro totalmente comprometido.
Para isso, decidiram comunicar com todas as crianças conhecidas para que, entre todos, possam mostrar aos adultos que devem manter os sentimentos de quando eram meninos.
Que devemos ter amor pela natureza e respeitá-la, para que ela nos respeite a todos. Que é o oposto do que se anda a fazer. Na natureza, sem as plantas e sem os animais, não há futuro.
E como é que os adultos não percebem isto? Até parece que não querem saber de si, nem dos seus filhos!
Foi então que o colibri voou pausadamente para a árvore em frente. Parecia mesmo compreender que as duas crianças o tinham entendido e iam também ajudar a natureza a retomar o seu rumo.
2009.03.23
Do Luciano e da Ana Luísa, a reenviar a todas as crianças, pela defesa do meio ambiente.
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